domingo, 31 de agosto de 2014

Endossos de Professores da FFLCH à Manifestação de Professores do Departamento de Filosofia à Comunidade Universitária

Nós, abaixo assinados, endossamos e subscrevemos as ideias e argumentos contidos no documento MANIFESTAÇÃO DE PROFESSORES DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA – MAIS ESPECIFICAMENTE À FFLCH, assinado por 24 docentes do Departamento de Filosofia:

  1. Adone Agnolin (DH)
  2. Adrian Gurza Lavalle (DCP)
  3. Adriano Aprigliano (DLCV)
  4. Alexandre Hasegawa (DLCV)
  5. Alfredo Bosi (DLCV, Professor Emérito)
  6. Alvaro A. Comin (DS)
  7. Álvaro de Vita (DCP)
  8. Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer (DA)
  9. André Malta (DLCV)
  10. André Singer (DCP) [*com restrições pontuais ao texto]
  11. Angela Alonso (DS)
  12. Antonio Dimas (DLCV, aposentado)
  13. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães (DS)
  14. Ataliba Teixeira de Carvalho (DLCV, Professor Emérito)
  15. Beatriz Benradt Martinez (DLCV)
  16. Brasílio Sallum (DS)
  17. Bruno Wilhelm Speck (DCP)
  18. Caio Gagliardi (DLCV)
  19. Carlos Guilherme Mota (DH, Professor Emérito)
  20. Celeste Ribeiro de Sousa (DLM)
  21. Christian Werner (DLCV)
  22. Cícero Araújo (DCP)
  23. Claudia Amigo Pino (DLM)
  24. Cláudia Dornbusch (DLM)
  25. Diva Barbaro Damato (DLM, aposentada)
  26. Eduardo Cesar Leão Marques (DCP)
  27. Elena Vássina (DLO)
  28. Eliana Fischer (DLM)
  29. Emerson Inácio (DLCV)
  30. Eunice Durham (DA)
  31. Eunice Ostrensky (DCP)
  32. Elizabeth Harkot de La Taille (DLM)
  33. Eloá Heise (DLM, aposentada)
  34. Fernanda Arêas Peixoto (DA)
  35. Fernando Limongi (DCP)
  36. Fernando Novais (DH, Professor Emérito)
  37. Fernando Rodrigues Jr. (DLCV)
  38. Flávia Corradin (DLCV)
  39. Francisco Maciel Silveira (DLCV)
  40. Francisco Martinho (DH)
  41. Franklin Leopoldo da Silva (DF)
  42. Fraya Frehse (DS)
  43. Gildo Magalhães (DH)
  44. Giuliana Ragusa (DLCV)
  45. Glauco Peres da Silva (DCP)
  46. Helmut Galle (DLM)
  47. Heloísa Albuquerque Costa (DLM)
  48. Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins (DS, aposentada)
  49. Homero Freitas de Andrade (DLO)
  50. Ieda Maria Alves (DLCV)
  51. Irene Aron (DLM, aposentada)
  52. Irene Cardoso (DS) 
  53. Izidoro Blikstein (DL, aposentado)
  54. Jaa Torrano (DLCV)
  55. João Angelo Oliva Neto (DLCV)
  56. João Azenha (DLM)
  57. João Paulo Cândia (DCP)
  58. José Bueno Conti (DG)
  59. José Carlos Sebe Bom Meihy (DH, aposentado)
  60. José de Souza Martins (DS, Professor Emérito)
  61. José Jobson de Andrade Arruda (DH, aposentado)
  62. José Miguel Wisnik (DLCV, aposentado)
  63. José Nicolau Gregorin Filho (DLCV) [*com restrições pontuais ao texto]
  64. Juliana Perez (DLM)
  65. Karen Macknow Lisboa (DH)
  66. Laura de Mello e Souza (DH)
  67. Laura Hosiasson (DLM)
  68. Laura Izarra (DLM)
  69. Leopoldo Waizbort (DS)
  70. Lilia Moritz Schwarcz (DA)
  71. Lineide Salvador Mosca (DLCV, aposentada)
  72. Lorena Barberia (DCP)
  73. Luise Marion Frenkel (DLCV)
  74. Luiz Antônio da Silva (DLCV)
  75. Marcelo Candido (DH)
  76. Marcelo Rede (DH)
  77. Marcio Ferreira da Silva (DA)
  78. Marcos Flamínio Peres (DLCV)
  79. Marcos Moraes (DLCV e IEB)
  80. Marcus Mazzari (DTLLC)
  81. Maria Cecilia Casini (DLM)
  82. Maria Cristina Altman (DL)
  83. Maria Eliza Miranda (DG)
  84. Maria Helena Nery Garcez (DLCV, aposentada)
  85. Maria Helena P. T. Machado (DH)
  86. Maria Helena Oliva Augusto (DS)
  87. Maria Inês Batista Campos (DLCV)
  88. Marli Quadros Leite (DLCV)
  89. Marly de Bari Mattos (DLCV)
  90. Marta Arretche (DCP)
  91. Mary Lafer (DLCV)
  92. Marta Kawano (DTLLC)
  93. Maurício Santana (DLM)
  94. Modesto Florenzano (DH)
  95. Munira Mutran (DLM, aposentada)
  96. Nadya Araujo Guimarães (DS)
  97. Olga Alejandra Mordente (DLM)
  98. Patrícia Carvalhinhos (DLCV)
  99. Patricio Tierno (DCP)
  100. Paula Corrêa (DLCV)
  101. Paulo Martins (DLCV)
  102. Philippe Willemart (DLM, aposentado)
  103. Rafael Duarte Villa (DCP)
  104. Rita Chaves (DLCV)
  105. Roberto Brandão (DLCV, aposentado)
  106. Rogério Bastos Arantes (DCP)
  107. Rúrion Melo (DCP)
  108. Samuel Titan Junior (DTLLC)
  109. Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos (DLM)
  110. Sérgio Miceli (DS)
  111. Sheila Vieira de Camargo Grillo (DLCV)
  112. Telê Ancona Lopez (DLCV e IEB)
  113. Teresa Cristófani Barreto (DLM, aposentada)
  114. Tinka Reichmann (DLM)
  115. Willi Bolle (DLM, aposentado)
  116. Yudith Rosenbaum (DLCV)
MANIFESTAÇÃO DE PROFESSORES DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA – MAIS ESPECIFICAMENTE À FFLCH
Professores do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas vêm a público se manifestar a respeito dos preocupantes acontecimentos a que estamos submetidos, neste momento, na Universidade de São Paulo.
Sabemos todos que a USP atravessa um período muito difícil, certamente um dos piores de sua notável história. Uma profunda crise financeira, gerada pela irresponsabilidade da última gestão reitoral, nos coloca em face de um quadro alarmante, com indesejadas medidas de cortes orçamentários. Por isso, não é senão natural que, nessas circunstâncias, se deflagre uma greve, por aqueles que veem seus salários desvalorizados. Também se compreende que tal mobilização abarque respeitável contingente de servidores não-docentes e servidores docentes, e que receba o apoio de parte dos estudantes. Nada disso, em princípio, deve ser tomado como algo estranho à vida universitária, onde vigoram os direitos trabalhistas básicos presentes em todos os segmentos da sociedade.
No entanto, particularmente no caso da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, é preciso olhar para esse cenário com alguma cautela. Este Departamento de Filosofia, até mesmo em virtude de sua vocação para a análise crítica – vocação que decerto se exercita em todos os Cursos desta Faculdade -, considera absolutamente inadiável e urgente que se procure olhar para esses acontecimentos como parte de um arco histórico mais extenso, que remonta pelo menos a uma década, e não como um episódio isolado. E nos parece difícil, com base nessa visada mais ampla, escapar de um triste diagnóstico: os movimentos de paralisação das atividades normais a que assistimos quase que anualmente têm produzido o indesejado efeito da degradação da qualidade de nosso trabalho, especialmente em sua parte mais importante e sensível, a docência em nível de graduação, além de conduzirem a um crescente esgarçamento das relações entre as pessoas, em franca oposição àquilo que se espera de um ambiente universitário.
Greves são instrumentos legítimos de pressão e luta. Para que surtam efeito, devem criar uma situação indesejada de anormalidade que obrigue as partes em conflito a uma negociação que permita o retorno à normalidade suspensa. Greves são, pois, instrumentos fortes, que devem ser utilizados com a prudência e o senso de oportunidade que se espera de agentes políticos conscientes.
Ora, no caso desta Faculdade, observa-se um processo de introdução das greves na rotina acadêmica e, consequentemente, de sua banalização. Embora seja preciso reconhecer que algumas delas foram movidas por razões justas e que obtiveram resultados importantes e benéficos, é necessário também admitir que, quando se fazem greves com tamanha frequência, seu caráter extraordinário, condição necessária para sua força, se perde, e o resultado é a inevitável diminuição do poder persuasivo e da credibilidade dos que as promovem.
Esse déficit de credibilidade e de poder persuasivo tem levado os movimentos grevistas, nos últimos anos, a recorrer a expedientes como piquetes, obstrução de salas de aula, cadeiraços etc. Eis aí o cenário que hoje predomina nos prédios da Faculdade: o deprimente esvaziamento, causado, sobretudo, pela deserção da grande maioria dos estudantes.
Muitos docentes deste Departamento fizeram, fazem ou farão greves, na Universidade ou fora dela. Em nenhum momento isso é aqui posto em questão. O que se quer destacar é que a banalização dessa forma de luta instalada na Faculdade conduz gradativamente ao esvaziamento do sentido da instituição e à perda do papel que se espera dela, porque seus fins se veem intensamente ameaçados. Sobretudo o prejuízo causado ao ensino é preocupante, pois as consequências são claras: aumento da evasão e do desinteresse, má formação dos estudantes, além da crescente dificuldade do diálogo e da comunicação. As sempre bem-intencionadas reposições pouco podem fazer para diminuir esses efeitos e, embora em alguns casos os diminuam, acabam, muitas vezes, contribuindo apenas para maquiá-los.
A ação já costumeira da obstrução de salas de aula, impedindo que se exerçam as atividades esperadas e desejadas pela Universidade e pela Faculdade, indica, portanto, uma preocupante transformação: as finalidades da Universidade, tal como expressas em seus Estatutos, com o intuito de preservar o espírito mesmo que animara sua criação – a produção e transmissão do conhecimento, a aquisição do espírito crítico necessário à boa formação cidadã -, vão sendo destronadas, em benefício de novos fins, de novas práticas que não são minimamente compatíveis com valores que definem a própria ideia de Universidade que nos tem sido cara, como a liberdade de pensamento e expressão, o respeito à opinião divergente como estímulo ao saudável e necessário debate construtivo de ideias, além do direito ainda mais básico de ir e vir.
Cada sala de aula vazia por imposição de força aparece a este Departamento como a negação da Universidade e, mais especialmente, de uma Faculdade que, orgulhando-se de sua condição de célula-mater da Universidade, tem a responsabilidade de pensá-la, de refletir sobre ela, de apontar caminhos para sua preservação e aperfeiçoamento. E esse trabalho do pensamento, impondo-nos certo distanciamento crítico e cautela em face dos acontecimentos, não é plenamente compatível com o voluntarismo irrefletido que tem prevalecido.
Parece-nos, assim, urgente a aceitação de que nos encontramos, nesta Faculdade, diante de uma situação ainda mais crítica do que aquela que acomete a saúde financeira da Universidade. Vivemos, na verdade, uma crise de identidade. Estamos sob o sério risco de não mais sabermos o que somos e para que existimos. Se não formos capazes de aceitar que certos valores universitários devem ser preservados do conflito político e que esse mesmo conflito deve sempre mantê-los em seu horizonte, teremos então chegado ao esgotamento da ideia de universidade que esta Faculdade sempre disseminou, segundo a qual se defende a possibilidade de um saber livre das amarras tanto do pragmatismo do mercado quanto do aparelhamento político-partidário. Está em jogo, para além dos problemas pontuais que hoje nos assombram, a preservação de nossa relevância no interior da Universidade, relevância sempre contestada e por cujo reconhecimento a Faculdade luta desde que a USP é a USP. Cabe-nos reafirmá-la, mas para isso é preciso ter a honestidade intelectual de reconhecer nossos próprios problemas e limites.

Não há pensamento crítico sem autocrítica. Está mais do que na hora de fazê-la. Caso contrário, talvez o futuro nos reserve dias ainda piores.


Assinam este documento:

Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros
Caetano Ernesto Plastino
Carlos Alberto Ribeiro de Moura
Carlos Eduardo de Oliveira
Edélcio Gonçalves de Souza
João Vergílio Gallerani Cuter
José Carlos Estêvão
Lorenzo Mammì
Luiz Sérgio Repa
Márcio Suzuki
Marco Antônio de Ávila Zingano
Marco Aurélio Werle
Marcus Sacrini Ayres Ferraz
Mário Miranda Filho
Mauricio Cardoso Keinert
Mauricio de Carvalho Ramos
Milton Meira do Nascimento
Moacyr Ayres Novaes Filho
Oliver Tolle
Pedro Paulo Garrido Pimenta
Ricardo Ribeiro Terra
Roberto Bolzani Filho
Sérgio Cardoso
Valter Alnis Bezerra